Um amigo brasileiro e eu caminhávamos pelas ruas de Paris e de repente começamos a falar de um francês que esteve em São Paulo, nas Arcadas do Largo de São Francisco, por volta de 1865.
Auguste Blanqui! - ele afirmou.
Não, respondi-lhe. Quem esteve lá foi Louis Blanc, tornando-se próximo de Venâncio Aires, na Bucha.
A Burschenschaft, aquela sociedade secreta fundada na década de 1830 por Julius Frank, a respeito da qual já escrevi por aqui. Os dois, Louis e Auguste, eram contemporâneos, sim, mas Blanqui jamais esteve no Brasil.
Retorno de toda sorte a Fernando Pessoa, naquele verso no qual, afirmando que não tem certeza nenhuma, indaga se é mais certo ou menos certo.
O tempo que consumi até chegar aos quase 80 anos - mais um ano e sete meses e lá estarei! - ensinou-me a ser assim. A inconsistência da certeza produz serenidade. A consistência seja lá do que for é temporária, mesmo porque - como afirma Marshall Berman - tudo o que é sólido se desmancha no ar!
A ela me aproximei, à serenidade, após duas cirurgias que suportei em setembro passado, quando quase me fui... Isso eu afirmei a um dos médicos que me socorreu e ele contou o que aconteceu com sua esposa: após também quase se ir, sobrevivendo ao que suportou, tornou-se outra pessoa, prudente, serena.
Louis Blanc é próximo a mim por conta de ter estado nas Arcadas, onde fui professor durante mais de 40 anos e todos os anos sou chamado a saudar os calouros. A respeito de Auguste Blanqui e a eternidade, escrevi recentemente. Meus artiguinhos publicados nas edições do Diário de Santa Maria de 9 e 10 de setembro de 2017 e 1º e 2 de dezembro passado dizem tudo o que eu gostaria de lembrar.
A lembrar ainda de que ambiguidade da linguagem é terrível. Tanto para quem escreve quanto para quem lê o que escrevemos! Um poema há de ser meu tanto porque o escrevi quanto pelo fato de conservar comigo o pedaço de papel no qual um poeta o escreveu. Essa confusão - fusão entre duas situações - é menos grave do que as que algumas vezes nos invadem...
Ninguém se deu conta disso, mas o José Antonio Brenner - meu primo e amigo - puxou minha orelha recentemente porque se deu conta de que na edição de 21 e 22 de abril de 2018 perpetrei mais uma. Pois digo lá, no meu artiguinho, que Guerra Junqueira afirma que tudo vale a pena se a alma não é pequena, verso escrito por Fernando Pessoa em um lindo poema, Mar Portuguez.
O Brenner me puxou a orelha, mas agora puxo a dele! Pois o mesmo equívoco eu já cometera no artiguinho publicado na edição de 6 e 7 de maio de 2017 e ele não percebeu!
É isso aí: como dizem que Sócrates dizia, só sei que nada sei!